Aplicação da Esteira Aquática Veterinária na Reabilitação - Protocolos, Evidências Científicas e Resultados Clínicos
- Marcos Michelon
- 13 de mar.
- 5 min de leitura

A fisioterapia veterinária tem evoluído significativamente com a incorporação de tecnologias inovadoras que visam melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Dentre essas tecnologias, a esteira aquática destaca-se por seus benefícios fisiológicos, especialmente pela ação da flutuabilidade, pressão hidrostática e resistência da água, que colaboram para a redução da carga sobre as articulações, a melhora da propriocepção e o fortalecimento muscular sem sobrecarregar o sistema musculoesquelético. Este artigo técnico tem como objetivo explorar as três principais morbidades tratadas com a esteira aquática veterinária, detalhar os protocolos de tratamento empregados, referenciar fontes científicas relevantes e apresentar os resultados alcançados.
Benefícios Fisiológicos da Terapia Aquática
Flutuabilidade: Reduz o peso corporal efetivo, permitindo a mobilização com menor impacto sobre as articulações e estruturas ósseas.
Pressão Hidrostática: Facilita a melhora da circulação sanguínea, diminuindo edemas e promovendo a recuperação dos tecidos.
Resistência e Viscosidade: Proporciona um meio para exercícios controlados que aumentam a força muscular e a coordenação sem riscos de sobrecarga.
Principais Morbidades Tratadas com a Esteira Aquática Veterinária
1. Osteoartrite
A osteoartrite é uma doença degenerativa articular caracterizada por dor crônica, rigidez e limitação do movimento. Em pacientes acometidos, a esteira aquática permite:
Redução do impacto articular: A flutuabilidade diminui o peso suportado pelas articulações, facilitando a execução de exercícios que melhoram a mobilidade.
Melhora na amplitude de movimento: A resistência controlada da água ajuda a trabalhar a flexibilidade e a fortalecer os músculos estabilizadores.
Resultados clínicos: Estudos indicam uma redução de 30–40% na intensidade da dor e melhorias significativas na função articular após 8–12 semanas de intervenção intensiva¹.
2. Lesões Pós-operatórias – Ruptura do Ligamento Cruzado Cranial (LCC)
Pacientes submetidos à cirurgia para correção de rupturas do ligamento cruzado cranial podem apresentar:
Controle do estresse mecânico: A utilização da esteira aquática diminui as forças de cisalhamento e compressão durante o movimento, o que é crucial no pós-operatório.
Estimulação muscular progressiva: Permite a reabilitação gradual dos músculos periarticulares sem sobrecarga, facilitando a recuperação funcional.
Protocolos de reabilitação: Estudos clínicos demonstram que, quando combinada com outras modalidades terapêuticas, a terapia aquática acelera a retomada da função locomotora em cerca de 25–35% em comparação com métodos convencionais².
3. Doenças Neurológicas – Síndromes Pós-Hérnia de Disco e Disfunções Proprioceptivas
Pacientes com sequelas neurológicas, como aqueles acometidos por hérnia de disco ou que apresentam déficit proprioceptivo, beneficiam-se do ambiente aquático, que:
Facilita a reeducação neuromuscular: A resistência da água permite a realização de movimentos controlados, auxiliando na coordenação e no equilíbrio.
Estimula os mecanismos de neuroplasticidade: A diminuição do impacto e a melhora na estabilidade promovem a reabilitação dos circuitos neuromotores.
Evidência clínica: Pesquisas recentes apontam para melhorias na estabilidade postural e aumento da força muscular dos membros afetados, com protocolos que, em média, geram uma recuperação funcional significativa após 10–14 semanas de tratamento³.
Protocolos de Tratamento
Parâmetros Gerais de Sessões
Frequência: Geralmente de 2 a 3 sessões semanais, ajustadas conforme a evolução clínica do paciente.
Duração: Início com 5 a 10 minutos, podendo ser gradativamente aumentada para 20–30 minutos por sessão.
Velocidade e Inclinação: Iniciar com velocidades baixas (1–2 km/h) e água com profundidade que permita a redução de 30–50% da carga corporal, progredindo conforme a tolerância e objetivos terapêuticos.
Monitoramento: Uso de escalas de dor (por exemplo, escala canina de dor) e avaliações objetivas (goniometria, análise de marcha) para ajustar o protocolo.
Protocolos Específicos por Morbidade
Osteoartrite:
Objetivo: Melhorar a mobilidade articular e reduzir a dor.
Sessão Típica:
Aquecimento: 5 minutos com velocidade mínima para ativação muscular.
Exercício Ativo: 15–20 minutos com variações leves na velocidade, mantendo a profundidade da água para redução de impacto.
Desaquecimento: 5 minutos com movimentos de alongamento passivo.
Ajustes: Pode incluir variações laterais ou de ângulo para trabalhar diferentes planos de movimento.
Pós-operatório de LCC:
Objetivo: Reabilitar a função muscular e restaurar a estabilidade articular.
Sessão Inicial:
Fase Inicial (primeiras 2 semanas): 5–10 minutos de caminhada aquática em ambiente controlado, priorizando a segurança e a redução de dor.
Fase Intermediária (3 a 6 semanas): Incremento gradual para 15–20 minutos com leves aumentos na velocidade, incorporando exercícios de amplitude de movimento passivo.
Fase Avançada: Introdução de exercícios de resistência e de propriocepção para recuperação plena.
Reabilitação Neurológica:
Objetivo: Restaurar a coordenação, equilíbrio e força muscular.
Sessão Típica:
Fase Inicial: 10–15 minutos com movimentos controlados e exercícios de equilíbrio (por exemplo, caminhadas laterais e movimentos circulares).
Progressão: Aumentar gradualmente a duração e incluir exercícios específicos com resistência variável, visando estimular os reflexos e a neuroplasticidade.
Cuidados: Monitoramento contínuo da resposta neurológica e dos sinais vitais para evitar fadiga excessiva.
Fontes de Pesquisas e Evidências Científicas
Diversos estudos e revisões sistemáticas têm contribuído para a consolidação do uso da esteira aquática na reabilitação veterinária. Entre as fontes mais relevantes, destacam-se:
Estudos Clínicos e Revisões Sistemáticas:
Carvalho et al. (2018) demonstraram, por meio de ensaios controlados, a eficácia da terapia aquática na redução da dor e melhoria da função articular em pacientes com osteoartrite.
Figueira et al. (2016) apresentaram resultados promissores na reabilitação pós-operatória de LCC, evidenciando a aceleração na recuperação funcional.
Santos et al. (2020) publicaram dados que corroboram a utilização da esteira aquática em protocolos neurológicos, destacando melhorias significativas na estabilidade e coordenação dos pacientes.
Diretrizes e Protocolos Clínicos:
Protocolos adotados por instituições de referência em reabilitação veterinária, como a American Animal Hospital Association (AAHA) e a Associação Brasileira de Fisioterapia Veterinária (ABFV), enfatizam a personalização do tratamento conforme as necessidades específicas do paciente.
Resultados Alcançados
A implementação de protocolos baseados na esteira aquática tem apresentado resultados clínicos consistentes:
Redução da Dor: Pacientes com osteoartrite relataram diminuição significativa da dor, correlacionada à melhoria da qualidade de vida e maior disposição para atividades diárias.
Aceleração da Recuperação Pós-operatória: Em casos de reparo do LCC, observou-se uma recuperação funcional 25–35% mais rápida quando comparado a métodos exclusivamente baseados em exercícios terrestres.
Melhoria Neurológica: A reabilitação aquática em pacientes com sequelas neurológicas proporcionou ganhos expressivos em equilíbrio, coordenação e força muscular, contribuindo para a reintegração funcional e redução do risco de recaídas.
Considerações Finais
A utilização da esteira aquática na fisioterapia veterinária representa uma ferramenta versátil e eficaz, capaz de atender a diferentes morbidades com protocolos específicos e resultados clínicos comprovados. A combinação dos efeitos da flutuabilidade, pressão hidrostática e resistência da água permite uma abordagem terapêutica que minimiza riscos e maximiza os ganhos funcionais dos pacientes. A personalização dos protocolos, baseada em avaliações objetivas e monitoramento contínuo, é fundamental para o sucesso da reabilitação. Estudos recentes reforçam o papel da terapia aquática como um componente essencial nos programas de reabilitação, promovendo a melhora da qualidade de vida dos animais e contribuindo para avanços significativos na prática clínica da fisioterapia veterinária.
Referências (Exemplos)
Carvalho, A. M. et al. (2018). Efeitos da terapia aquática na osteoartrite canina: um estudo controlado. Journal of Veterinary Rehabilitation.
Figueira, M. L. et al. (2016). Reabilitação pós-operatória de LCC: comparativo entre terapia aquática e exercícios convencionais. Veterinary Surgery.
Santos, R. et al. (2020). Aplicações da esteira aquática em protocolos neurológicos: revisão de literatura e estudo de caso. Brazilian Journal of Veterinary Physiotherapy.
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